O homem, para a PGU é um ser paradoxal que, para ‘ser-em-si-e-para-si’, em sua totalidade e unicidade, só pode ser ‘sendo’, existindo perante o outro, para o outro, com o outro e no outro. Nenhum homem é-em-si-mesmo-por-si-mesmo; sua subjetividade é formada pela incorporação de consciências emocionadas de inúmeros ‘tus’ que a ele se apresentaram, que a ele se fizeram e se fazem face, tanto por heranças filo e ontogenéticas, quanto por vivências no mundo e com o mundo.
Mundo é tudo e todos que estão fora das fronteiras de contato do ser. O mundo externo é o que é; o interno é o que pode ser. Uma pessoa ou objeto fora-do-ser, ou seja, no mundo, é em-si o que é para-si. Já para o homem, em sua subjetividade, o mundo interior torna-se diferente do mundo exterior, pois a este é dado um sentido único, individual e irrepetível. Aos significados dados aos seres e às coisas pelo mundo exterior, é dado, pelo fundo experiencial de cada homem, um sentido particularmente seu durante o processo de incorporação. Processo este que nos torna pessoas unas, integradas, indivisíveis e irrepetíveis. A diversidade do mundo é o alimento do homem.
Para a PGU aceitar não é concordar, é autorizar, permitir. Não um permitir relacionado a ‘ser-permissivo’, irresponsável, mas uma permissão à existência e a essência do outro. O processo de crescimento, de atualização do Self só é possível quando do reconhecimento e aceitação do diferente. Para a PGU esta é a chave e o cerne da arte da alteridade, princípio de todo processo de incorporação e atualização do Self. No entanto, o processo de aceitação não corresponde a uma passividade, a uma inércia ou dessensibilização, a uma falta ou retirada de energia do fluxo de contato. Muito pelo contrário, é um intenso investimento de força e energia tanto na flexibilização quanto no enrijecimento das próprias fronteiras de contato em busca do pleno encontro com o Outro e com o mundo. O processo de aceitação e permissão do existir do outro, gera autoridade e confirmação que, por sua vez, geram gratidão e reciprocidade. A ação recíproca gera, no entre das fronteiras organismo/ambiente, no entre das fronteiras do ser-e-do-mundo, do eu-e-do-Outro, o ‘nós’ transcendente, o divino da relação, a chave para a assimilação e incorporação do Outro e do mundo.
A PGU conceitua afeto como um sintoma, não como um sentimento ou emoção. Antes de ser um sentimento, afeto é um modo de ser-no-mundo, uma forma pela qual afetamos e somos afetados pelo outro. Compreende-se, portanto, o afeto como um modo de afetar, como uma ação empreendida para com o outro quando o afetamos e, uma ação empreendida em nossa direção quando nos permitimos ser afetados pelo outro.
O afeto como sentimento, portanto, é um sintoma, é o resultado do como afetamos e nos permitimos ser afetados. Antes do sentir vem a ação. Portanto, não é o que o outro diz ou faz que nos afeta. Somos nós que nos permitimos ser afetados pelo que o outro diz ou faz. Esta mudança de rumo, esta alteração no sentido que damos aos afetos nos coloca frente-a-frente com a responsabilidade sobre nossos sentimentos. Quando somos afetados, ou seja, quando permitimos sermos afetados por algo ou pela ação de alguém, o que sentimos, o sentimento que nasce em nós, é de nossa inteira responsabilidade. O que nos afeta na relação com o outro, não está no outro, está em nós. ‘Aquele que sente sou eu, portanto, este sentimento é meu!’
O ato de pensar, para a P.G.U., não corresponde ao processo mental involuntário, mas a uma escolha consciente de busca pelo conhecimento, satisfação de necessidades e crescimento. O pensamento involuntário são somente repetições dos conteúdos já existentes no fundo existencial, o que pouco pode contribuir com o processo salutar de crescimento visto que, como repetições, falta-lhe o ‘novo’, o diferente, o diverso que pode dar-lhe novas nuances de possibilidades. Pensar é, portanto, para a P.G.U., confrontar conscientemente seus próprios conteúdos com os conteúdos oferecidos pelo meio/outro - única forma de obtenção do que ainda não temos.